Sidnei Carriuolo: “Pompeia Guerreira, chegou sua hora!”

Presidente Sidnei Carriuolo fala sobre a conquista do título e destaca motivação, respeito à comunidade e amor ao pavilhão como pilares de sustentação da Águia de Ouro

Presidente Sidnei e a taça de campeã do carnaval 2020

Como diz um dos trechos do samba enredo escolhido para levar o G.R.E.S. Águia de Ouro para a avenida, em 2020, a hora chegou e a comunidade da Pompeia soltou o grito que estava engasgado há quatro décadas: “Ééé, campeã!!!”.

Com o tema O Poder do Saber – Se Saber é Poder… Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer!, a escola foi a grande vencedora do campeonato. Fundada em 1976, no bairro da Pompeia, zona oeste de São Paulo, a agremiação nunca tinha levado um título. 

No comando da escola há quase quatro décadas, o presidente Sidnei Carriuolo diz que a ficha demorou cair sobre a conquista e reforça que o mérito é da sua comunidade, sempre muito presente e solidária. Segundo ele, o ano foi difícil, financeiramente, para a escola e, praticamente na véspera do desfile, tiverem problemas com um ateliê que deixou de entregar parte das fantasias de uma ala e, também, para alguns componentes da bateria. Com isso, 12 ritmistas que sairiam na linha de cuíca abriram mão do desfile, mesmo tendo ensaiado o ano todo, e se propuseram a empurrar o carro da comissão de frente. 

“Já fizemos grandes carnavais, dignos de campeões. São muitas gerações trabalhando com a comunidade, a importância da disputa. Acredito que conseguimos plantar isso em cada um e o resultado é um presente para todos que assumiram a postura de levar a sério a construção do trabalho, até o dia do desfile”, conta Carriuolo, que não costuma acompanhar a apuração dos votos. No dia da contagem das notas costuma ir para longe dirigindo em “uma estradinha de terra”, de preferência. Só depois de um tempo, ele retoma e toma conhecimento do resultado. Neste ano, não foi diferente.

Entrevista com Sidnei Carriuolo

Sempre presente na quadra da escola, ele é muito observador. Caminhando entre os componentes ou no palco, ele observa tudo e todos. Fala calma, sempre ouvindo as sugestões, Carriuolo abre os ensaios, que ocorrem aos domingos à noite, com a quadra cheia, agradecendo a presença de cada um e reforçando a importância da dedicação e responsabilidade para atingirem a meta. “Nossa comunidade é alinhada com a proposta da escola. Basta a gente deixar claro onde queremos chegar e o que esperamos deles. Já falei muito isso no microfone. Não vou mudar a escola por conta de meia dúzia de pessoas que não estão contentes. As pessoas entram e já sentem o clima. Temos todos a mesma filosofia de conduta e nada é forçado. Fica quem se identifica”, comenta.

“O grande segredo para ter a comunidade presente é fazer com que venham, espontaneamente, sem enxergar como algo chato e obrigatório. Se a pessoa enxerga como obrigação, eu digo que já pode parar porque não estão no clima. Somos uma grande família e todos sentem muito prazer naquele momento de se reunir para, durante os ensaios, fazer a celebração da amizade, parceria e isso é o que nos fortalece, em busca dos objetivos. O amor ao pavilhão é muito forte em nossos componentes”, ressalta.

Comemoração e COVID-19

Como uma ironia do destino, a escola ainda não conseguiu comemorar o título, pois logo após o carnaval, a pandemia foi decretada, levando todos ao isolamento social como forma de não disseminar o vírus. O grito da comemoração está guardado para o momento certo. “Eu preciso fazer uma festa de campeão. Isso é importante. Sou do grupo de risco por conta da minha idade, mas eu não vejo a hora disso tudo acabar para comemorarmos com uma grande festa com a comunidade e abraçar muita gente. Quero reunir todos porque são merecedores. Busco força nisso e espero que não aconteça nada comigo para não perder esta oportunidade”, diz. 

O isolamento social trouxe outra realidade para a rotina da escola. Cada ala tem um grupo no whatsapp e o presidente está em todos eles e diz nem parecer que estão em quarentena, por conta da interação. Realizam reuniões pela internet e o enredo será também anunciado por transmissão via redes sociais, no dia 9 de maio, data de aniversário da agremiação. 

Expectativas para Carnaval 2021

Diante do cenário atual de incertezas e muitas especulações, com relação ao adiamento do carnaval no próximo ano, Sidnei Carriuolo prefere focar no trabalho dentro de sua agremiação.

Estou muito apreensivo, mas acredito que teremos carnaval. Desta vez será de um modo diferente e financeiramente mais difícil. As escolas vão ter que se reinventar porque o impacto será totalmente na parte visual e o forte será na manifestação da comunidade, ou seja, nós vamos voltar alguns anos, quando fazíamos um carnaval de raiz, com sambas mais elaborados e entrega total dos componentes, ou seja, vamos perder umas coisas, mas ganhar em emoção e verdade”, pontua.

Águia de Ouro, como as demais agremiações, estão cumprindo seus calendários e realizando reuniões por meios digitais. As atividades não pararam, mesmo porque já estão cientes de que terão tempo reduzido para produzir, ensaiar e dar andamento aos preparativos como produção de peças piloto, montagem dos carros, confecção do samba, que são coisas que podem ser realizadas até meados de setembro e outubro.

Porém, para ensaios e produção total das fantasias, ainda é algo complicado, porque envolve questões financeiras. Como o presidente disse vai ser um carnaval de “bate pronto”!

Com renovações do carnavalesco (Sidnei França), diretor musical (Pelezinho) e intérpretes (o trio Douglinhas, Darlan Alves e Tinga), 1º casal de mestre-sala e porta-bandeira (João Carlos e Ana Paula), mestre de bateria Juca, a escola já está em preparativos para o próximo ano e com um alerta do presidente: “peço para a comunidade ter sempre os pés no chão. Muita humildade, sempre na mesma batida de todos os anos. O campeonato não vai mudar nada neste sentido e eu faço questão de deixar isso bem claro!

“Eu enxergo o carnaval em dois pilares: uma é a visual, que tem o investimento e onde mostramos toda ostentação e grandeza da festa em dois quesitos, que são alegoria e fantasia. O outro é o chão da escola, ou seja, a evolução mesmo. Então, no carnaval 2021, os ritmistas vão tocar, vamos evoluir, a comissão de frente vai desenvolver sua coreografia, mestre-sala e porta-bandeira vão ter que caprichar ainda mais na técnica e o samba enredo deve ser muito bem elaborado para balançar o público. O impacto será totalmente na parte visual. Teremos um carnaval sem muita pompa, mas se tivermos o canto na ponta da língua, evolução e entrega dos componentes, nos 75 minutos de avenida, já é o caminho”, pontua. 

À frente da Liga SP

No dia 4 de maio, após assembleia geral extraordinária, Sidnei, então vice-presidente da Liga SP, assumiu a presidência da entidade, em regime provisório de 90 dias para que, juntamente com um comitê gestor formado por dirigentes das áreas Administrativa, Financeira e de Carnaval encontrem o nome de um gestor que será inserido a um novo modelo de gestão. Leia aqui a nota divulgada pela Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo.

Mônica Silva

Paulistana, da Freguesia do Ó. Jornalista, assessora de imprensa, especialista em produção editorial para publicações em segmentos diversos. Sempre teve Rosas de Ouro como primeira referência de carnaval. Já desfilou pelo Império de Casa Verde e também frequenta ensaios nas quadras das principais agremiações da zona norte.

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