Marquinhos Sensação, o Imperador do Samba

Com mais de 30 anos de carreira, cantor é consagrado com o  título de Imperador do Samba

Foto: Reprodução Facebook

Marcos César de Souza, o Marquinhos Sensação, tinha tudo para não ser do samba. Neto de Nhô Fio, cantor e compositor de músicas sertanejas, entre elas Beijinho Doce, o Imperador do Samba, nem do ritmo gostava. Foi na companhia de amigos de infância que passou a frequentar os pagodes e rodas e, para nossa alegria, pegou “gosto pela coisa”.

“Minha carreira começou muito engraçada porque eu não gostava de samba. Eu tinha um amigo de infância chamado Ademar, o apelido dele era Esqui. Jogávamos bola juntos e ele me apresentou o primo dele, o Luiz Carlos, hoje conhecido como Luizinho SP. Ele me levou no primeiro pagode da minha vida: o pagode do Buru, lá na Vila Madalena, que era do Mário Sérgio, do Fundo de Quintal”, conta Marquinhos.

Marquinhos, Carica e Luizinho SP
Foto: Reprodução Instagram | Marquinhos, Carica e Luizinho SP

Não parou mais… o segundo pagode que conheceu foi o da Tia Beth, que ficava no tradicional bairro da Barra Funda. “Por obra do destino, conheci meu parceiro da vida toda, que é o meu compadre Carica, aí pronto! Juntou a corda e a caçamba. Ele não tinha um grupo, mas reunia músicos e, juntos, faziam algumas apresentações em empresas. Num certo dia, o cantor não foi e eu acabei indo. Virei cantor na hora. Deus colocou o Carica, o Luisinho e o Prateado na minha vida para eu virar sambista. São 35 anos juntos, vivendo de samba”.

A chegada no Grupo Sensação
Grupo Sensação
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A chegada do Marquinhos no Grupo Sensação, teve o empurrãozinho de um grande ícone do carnaval paulistano. Carlos Alberto Tobias, o comandante Tuba, na época presidente da escola de samba Camisa Verde e Branco. O Grupo Sensação já existia, mas com outros integrantes. Cogumelo foi quem fundou o grupo e deu o nome. Marquinhos conta que foi Tobias quem sugeriu ao Cogumelo, o ingresso dele e do Carica no grupo. “O Sensação tinha outra formação. Estávamos juntos quando o Tobias falou pro Cogumelo prestar atenção e colocar nós dois no grupo. O Carica correu, disse que não queria saber de grupo. E eu falei que a gente precisava ver, fazer uma temporada. E eu fiz!” 

A partir daí, Marquinhos passou a cantar todos os sábados no Butiquim do Camisa, como vocalista do Sensação. Nessa época, o grupo estava sofrendo modificações. “O Cogumelo tinha saído do grupo e o trouxemos de volta. Foi ele que fundou, ele que era o dono do nome. E é essa formação que deu certo: Marquinhos, Cogumelo, João, Carica, Gazu”. 

Ele relembra que no começo de carreira do grupo, procuraram uma rádio, onde só tocava samba, para apresentar o primeiro trabalho. “Quando chegamos com o disco, o radialista disse que não iria tocar porque não era bom”. Segundo ele, o disco vendeu mais de 1 milhão de cópias. Por outro lado, teve incentivo de outros profissionais do cenário musical e faz questão de citar quem os ajudou. “O Douglas Sampa tinha uma casa de samba na Henrique Schaumann, nos ajudou muito. A gente ia lá cantar, ganhava 5 cruzeiros, na época achava que era um dinheirão. A gente também tem muita gratidão pela equipe da Chic Show. O Sid (pai) pegou o disco do Sensação, num domingo, e tocou todas as 11 faixas”.

Carreira solo

Há 15 anos, Marquinhos resolveu seguir carreira solo, mas ainda faz shows ao lado de seus amigos. Ao todos são 35 anos de carreira com o Sensação, 18 CDs com o grupo e mais de 300 músicas gravadas.

O sonho de todo cantor dentro de um grupo é virar cantor solo. Eu costumo dizer que o sambista não pode decidir por uma carreira sozinho porque as pessoas já acham que o grupo brigou. Nós não brigamos. Nós não temos como brigar. Nós somos amigos de infância”.

Marquinhos diz que nunca teve medo de seguir sozinho, mas que a mídia sempre o assustou. “O samba é trampolim 

para muita gente. Isso é o que estraga muito o movimento do samba. Pessoas despreparadas como empresários, produtores, radialistas, que não tem preparação nenhuma, que não sabem o que é o samba, que não sabem o conteúdo do samba e acham que sabem”.

Mesmo seguindo seu caminho na carreira solo, Marquinhos sonha em gravar um DVD com os parceiros. “Quero fazer um DVD de 35 anos junto com os amigos do Sensação. Não por dinheiro, mas pela amizade, pela nossa história que é muito rica. Eu não conheço nenhum grupo que tenha uma história bonita como a do Sensação, de músicas fantásticas. O Arlindão é a perfeição em composição, mas Oyá, Crianças do Brasil, Coral de Anjos são músicas enigmáticas que é difícil de você não elogiar”. E completa. “O único grupo que tem condições de substituir o Fundo de Quintal é o Sensação, tanto por qualidade musical, como qualidade autoral”. 

O samba correndo nas veias

Marquinhos carrega a bandeira do samba e o defende com unhas e dentes. O samba é o ritmo que mais sofre preconceito. Até um pedaço ele caminha bem, mas quando sobe um degrau, já muda de nome, vira samba pop. O nosso samba é legal, é aquele que veio da senzala, é de Fundo de Quintal, Cacique de Ramos. Aí já olham de lado, falam que é coisa de maloqueiro. Eu mostrei pra muita gente que samba não é coisa de maloqueiro. Sustento 16 filhos com o samba. É muito rico de história, mas não tem o lugar devido no mundo. O samba tem que ser ritmo mundial. Não conheço ninguém que fique parado ouvindo samba”.

Nenhum dos 16 filhos está na vida artística, pelo menos, por enquanto. Mas, Marquinhos conta que o filho mais novo, que está com 4 anos, acorda cantando Coral de Anjos, um dos muitos sucessos do grupo Sensação. ”São coisas inexplicáveis. A nova geração que vem se formando é uma geração muito legal, tive a honra de receber Os de Paula na minha live. “Tiraram onda. O samba é o único ritmo que te dá a chance para várias vertentes. A geração do pagode dos anos 90 mostrou quais eram essas vertentes e que elas podiam ser exploradas”.

Marquinhos Sensação
Foto: Reprodução Facebook

Marquinhos fala que tem muitos ídolos: Zeca Pagodinho, Miltinho, Nelson Gonçalves, Herivelto Martins. “Paulinho da Viola é perfeito! Elegância, o príncipe do samba”. Além dos grandes nomes do samba, também cita seus ídolos internacionais: Stevie Wonder, Phill Collins, Alicia Kiss.

Quarentena

Em março deste ano, shows foram suspensos ou cancelados, em virtude da quarentena decretada para tentar frear o aumento de casos do novo Coronavírus. Marquinhos estima que deixou de fazer cerca de 50 shows. “O último show que eu fiz foi no dia 15 de março. Já estava com as agendas de abril e maio fechadas. Estamos trocando as datas”.

Desde então, tem feito lives pelas suas redes sociais e pelo Templo – Bar de Fé, que fica no bairro da Mooca, em São Paulo. “Pelo meu canal, faço uma ou duas vezes por mês. E todos os sábados, recebo amigos na live do Templo, a melhor casa de samba do Brasil.  As lives são ‘maneras’, mas eu não consigo sentir o calor humano. Eu amo as pessoas me tocando, sentir as pessoas perto de mim. Tô sentindo falta é do povo, de tirar fotos, de rir. Estamos sem vida social. Espero que essa briga política acabe e a gente possa voltar a trabalhar. Minha avó já dizia: cabeça vazia, oficina do Diabo”, finaliza Marquinhos.

Nome: Marcos César de Souza 
Nome artístico: Marquinhos Sensação 
Idade: 54 anos                                                                                                         Signo: Touro
Estado Civil: Casado
Escola de Samba do coração: Mangueira e Camisa Verde e Branco 
Bebida preferida: Água 
Comida preferida: Diversas
Perfume: Allure Homme Sport 
Música: Crianças do Brasil, do grupo Sensação 
Viagem Inesquecível: Primeira vez na Disney, com a família 
Sonho: Sonho todos os dias

Quer saber mais sobre o cantor Marquinhos Sensação? Acesse as redes sociais:

Fernanda Oening

Jornalista e produtora. Editora do SambaNews. Paulistana, nascida e criada na Barra Funda, bairro onde conheceu um amor pra vida inteira: Camisa Verde e Branco. Foi passista e destaque da escola por anos. Não dispensa uma boa roda de samba!

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