Prettos com dois Ts – Um pra mim, um pra você

Depois de 18 anos de carreira integrando o Quinteto em Branco e Preto, Magnu e Maurílio seguem carreira em dupla, uma parceria que vem de berço

Prettos
Foto: Divulgação

Eles são cantores, instrumentistas, compositores, arranjadores, atores, produtores e irmãos. Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira, a dupla Prettos, já somam mais de 20 anos de carreira. Só no grupo Quinteto em Branco e Preto, ao lado dos irmãos Ivison Casca, Everson e Vitor Pessoa, foram 18 anos. Juntos lançaram 4 CDS e foram vencedores do 24° Prêmio da Música Brasileira. 

Em 2013, com o fim do trabalho em grupo, os irmãos tocaram a vida de parceria e, em dupla, seguem na trilha do sucesso fazendo shows pelo Brasil inteiro e também com a roda de samba Quintal dos Prettos.

O começo

Antes do surgimento do grupo, em 1997, Magnu e Maurílio já estavam no meio musical. “Nós sempre fomos do samba. A gente trilhou a nossa carreira antes de chegarmos no Quinteto. Trilhamos toda uma proposta de trabalho, sem saber que a gente tinha uma. Nós já frequentávamos os pagodes para nos divertir e, encontramos ali, um anseio de fazer uma história na música. Então, no início dos anos 90, começamos a nossa carreira profissional”, conta Magnu.

Magnu Souzá
Magnu Sousá
Maurílio de Olveira
Maurílio de Oliveira

Filhos de pais músicos, os irmãos conheceram o samba ainda muito pequenos. “A nossa história com a música começou dentro de casa. A nossa mãe gravou um compacto em 1978, um ano antes do meu nascimento. Nosso pai, que está com 73 anos, é músico até hoje. O meu primeiro contato com um instrumento foi aos 4 anos de idade. Meu pai chegou em casa com uma timba, o que me despertou a curiosidade”, fala Maurílio.

Ainda na infância, os irmãos tiveram uma passagem muito difícil com o falecimento de sua mãe e partir desse fato passaram por dificuldades, várias mudanças de residências e acabaram se afastando da música.

“Dos meus 8 aos 12 anos, e 15 do Magnu, não tivemos mais contato com a música. Fomos retomar no aniversário de um amigo nosso, um pagode. Eu peguei um tantã, o Magnu um pandeirinho. Ali rolou um fio de esperança e achamos que rolava. Foi aí que montamos o nosso primeiro grupo de samba, o Divina Sedução. O nome foi o Magnu que criou porque ele entendia que a Virgem Maria foi uma divina sedução que gerou Jesus Cristo”, lembra Maurílio, aos risos.

Nessa época, os dois trabalhavam no ramo de jóias. “Teve um dia que a gente chegou a conclusão que o trabalho estava atrapalhando a música e resolvemos, juntos, pedir demissão. Aí fomos seguir nossa carreira de músicos. A gente determinou aquilo pra nossa vida. Porque quando a gente determina alguma coisa, a tendência daquilo acontecer é muito propensa e acho que foi isso que aconteceu’.

A madrinha Beth Carvalho

Com a decisão tomada, de seguirem a vida artística, Magnu e Maurílio passaram a se apresentar em rodas de samba. Foi no tradicional Boca da Noite, bar de samba de Wilson Sucena, frequentado por vários nomes do samba carioca, que conheceram os outros integrantes, e posteriormente viriam a formar o Quinteto. ”A gente se reunia para fazer samba. Só que a gente ia às quarta e os meninos às segundas. O Sucena dizia que tínhamos que conhecê-los. Marcamos, nos conhecemos e ficamos fazendo shows nesta casa por algum tempo.”

E foi no Boca da Noite que tiveram o primeiro contato com a Beth Carvalho, conhecida por apadrinhar vários artistas do samba. Os meninos lembram que ela foi ao bar em companhia da produtora musical, Cidinha Zanon. “Por ironia do destino, o Magnu não estava comigo nesse dia e eu liguei várias vezes pra ele, porque Deus sabe quem era Beth Carvalho para nós, antes mesmo dela aparecer na nossa vida. A gente já a tinha como um espelho e tínhamos um sonho gigante de conhecê-la”.

Beth Carvalho e Cidinha Zanon
Foto: Facebook

A dupla lembra que naquela noite, vários sambistas de São Paulo apareceram no bar e eles quase não tiveram chances de mostrar o trabalho para Beth Carvalho. “Quando deu uma brechinha, eu pedi um lá menor e a gente cantou o samba Hora de Chorar, do segundo disco dela”. 

“Ela ficou encantada. Depois daquilo, a noite foi nossa, acabou pra todo mundo. A gente cantava um samba atrás do outro e todos dos discos dela, com os mesmos arranjos”, relembra Maurílio.

A partir daí começava uma grande história entre os meninos e Beth Carvalho. “O Magnu tinha uma agenda onde a Beth escreveu a sugestão do nome para o grupo. Ele perdeu essa agenda, mas ela escreveu lá ‘Eu, Beth Carvalho, batizo Quinteto Café com Leite’. Foi ali que decidimos ficar exclusivamente na música, porque se não ficássemos ela não daria oportunidade da gente crescer. Depois de um tempo ela rebatizou como Quinteto em Branco e Preto”.

Prettos e Beth Carvalho
Foto: Reprodução Internet

A gratidão pela madrinha Beth Carvalho, que faleceu em 2019, não tem fim. Numa conversa com a cantora, quando já estava debilitada, ouviram coisas que vão levar para o resto da vida. “Tem coisas que ouvimos dela naquele dia que nunca vamos poder falar. Por respeito. Mas uma das coisas que ela falou que nunca mais vamos esquecer é: ‘de vocês eu sou madrinha mesmo, sou madrinha do Zeca, sou madrinha do Arlindo’. E falou mais alguns nomes. A gente aproveitou para agradecer e para dizer a ela o quanto a amamos. Não usamos o nome dela para status, como propaganda, é por um ato de amor. A Beth salvou a gente antes de a conhecermos”, falam em dupla.

Além de Beth Carvalho, Magnu também cita a importância do cantor, compositor e escritor, Nei Lopes, na trajetória deles. “A gente participou de shows com tanta gente importante para nós, em todos os sentidos. Um deles é o Nei Lopes, um gênio da negritude brasileira, com uma responsabilidade social muito grande, que logo no início da nossa carreira nos incentivou, nos indicou para a gravadora, nos deu a oportunidade de compormos juntos, nos deu a oportunidade de sermos gravados pela Alcione. Sem falar de Wilson Moreira, Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila, Zeca, Paulinho da Viola, Elton Medeiros. É difícil enumerar a importância que esses compositores e artistas têm na nossa vida e o quanto nos ensinaram”.

Prettos e o seu Quintal

Apesar da dupla ter sido lançada em 2013, após o fim do grupo, Magnu fala que os Prettos existem desde a juventude de ambos. 

“Quando o Quinteto parou, a gente resolveu fazer um trabalho, nós dois, e resgatar um pouquinho daquilo que a gente tinha, mais ou menos, na nossa juventude. Fizemos um disco, Essência da Origem, que remete a isso. Um trabalho que revisitou alguns sambas que a gente já tinha composto naquele tempo. Esse trabalho é basicamente a nossa carreira. Um complementa o outro, apesar das nossas diferenças musicais.”

“Viabilizamos a nossa carreira estando os dois juntos. Uma homenagem às duplas, como Arlindo Cruz e Sombrinha. No passado tiveram várias duplas de samba. O mercado da atualidade talvez não esteja acostumado e a gente resolveu apostar nessa junção, uma dupla de samba e tem sido muito legal essa experiência e o público tem respondido legal”.

Perguntado se foi difícil recomeçar depois de tanto tempo em grupo, Magnu é enfático. “Não deu tempo de sofrer, de sentir medo. Porque a nossa vida não foi fácil desde o começo. Pra quem perdeu a mãe com 9 anos, depois de tudo o que passamos, pra gente, por mais difícil que tenha sido a separação, um novo trabalho em vista sem saber se seria legal, o medo é na hora, mas aí, levanta e trabalha. Casamento acaba, não é eterno. E possibilidades existem. Não deu tempo de chorar e nem de sofrer”.

Paqüera, Maurílio, Chapinha, Magnu
Fundadores Comunidade Samba da Vela

Os meninos seguem trilhando novas metas. Além da dupla, eles ainda tem a roda de samba, Quintal dos Prettos. Uma roda acústica, formada por 11 músicos, que se apresenta um domingo por mês. Segundo eles, a roda nasceu de uma necessidade. Eles também faziam parte da Comunidade Samba da Vela, na qual foram fundadores, junto com Chapinha e o, já falecido, Paqüera.

O projeto nasceu em 2000 e é considerado “um movimento de grande expressão na cena do samba brasileiro, sendo espelho e referência para o surgimento de mais 100 comunidades de samba na cidade de São Paulo”.

 “O Quintal é uma realidade que nasceu de uma falta. Estávamos fazendo todos aqueles movimentos, aqueles processos de músicas e o Samba da Vela era um deles, que também foi interrompido num determinado momento. Nessa pausa de criação dos Prettos, a gente sentiu uma falta. Precisava fazer um pagode e criamos o Quintal, que hoje é uma realidade, que está aí pro Brasil ver”, fala Magnu.

“O Quintal era um sonho. E toda vez que o sonho acontece para nós, acaba virando profissional. Tudo o que a gente visualizou na música, aconteceu. A única coisa que a gente visualizou e ainda não aconteceu, é ganhar dinheiro. A gente enfrenta o maior desafio de todos que é viver da música, principalmente no samba, que é um movimento super democrático, onde, às vezes, o cara que nem tem nada a ver com o samba, vai lá, pega um tamborim e toca. Então, o que é hobby para muitos, pra gente é trabalho”,  completa Maurílio.

Quintal dos Prettos
Quintal dos Prettos

Engajados no cenário musical, a dupla sonha com a profissionalização de seus tantos colegas de profissão. “A gente tem que colocar na cabeça de muitos colegas que eles precisam se comportar como empresa. Temos um sonho, que um dia possa existir um órgão que tenha a capacidade de organizar quem quer viver, exclusivamente, da música e quem só toca por hobby. Porque aí a gente separa as coisas. Fomos muito criticados porque sempre participamos de tudo o que era do Sesc. Só dava o Quinteto porque éramos os únicos com carteira de músico. No Sesc era obrigatório”.

Em tempos de quarentena

Com a pandemia do novo Coronavírus, eles também sofreram os efeitos da quarentena, com shows e rodas canceladas, sem previsão de retorno. As lives tem sido a saída para estar mais perto dos fãs e, não menos importante, tentar ajudar aos mais necessitados.

“Tem muitos que sonham em serem músicos, mas trabalham em outras coisas. Não se dedicam exclusivamente. Apesar da música estar presente em todos os momentos de alegrias do ser humano, na crise o músico não é lembrado, não é considerado essencial. Com o Covid-19, a música é a última coisa que vai voltar a funcionar, principalmente o samba, por causa da aglomeração”, fala Maurílio.

E deixam um pedido aos fãs. “Os músicos estão há 3 meses sem trabalhar. Tem muitos artistas fazendo lives, fazendo o possível para que a população fique em casa, mas as doações estão indo só para os maiores. Não estão ajudando os artistas pequenos, que não são grandes conhecidos do público. Eles precisam ser reconhecidos. Precisamos ajudar os músicos menores, os amigos. Contribua com o músico da sua região”, finaliza Magnu.

Prettos

Nome: Magno de Oliveira Sousa e Maurílio de Oliveira Sousa  
Nome artístico: Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira 
Idade: 45 e 41 anos                                                                                                            Signo: Virgem e Áries                                                                                                    Estado Civil: Casados 
Escola de Samba do coração: Vai Vai, Peruche, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco 
Bebida preferida: Cerveja 
Comida preferida: Magnu gosta de todas e Maurílio de macarronada com frango 
Perfume: Dolce Gabbana e One Million
Música: Samba 
Viagem Inesquecível: Magnu cita Punta Cana e Maurílio, África do Sul 
Sonho: Ganhar dinheiro com a música e gravar, pelo menos, 10 discos com os Prettos

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Fernanda Oening

Jornalista e produtora. Editora do SambaNews. Paulistana, nascida e criada na Barra Funda, bairro onde conheceu um amor pra vida inteira: Camisa Verde e Branco. Foi passista e destaque da escola por anos. Não dispensa uma boa roda de samba!

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